terça-feira, 9 de julho de 2013

O poder corrompe

(Artigo de opinião escrito para a disciplina de Língua Portuguesa CSII, do curso de Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade de Caxias do Sul)


Se perguntarmos a qualquer pessoa como seria seu comportamento se ocupasse um cargo de grande responsabilidade e visibilidade, ouviríamos como resposta a seguinte frase: Minha postura seria exemplar, eu cumpriria minhas promessas e nunca roubaria do povo. Talvez a intenção seja verdadeira, não podemos duvidar. Porém, são poucos aqueles que sabem lidar com o poder.
Vejamos, existem dois tipos de seres humanos no mundo: os que exercem o poder e os que são manipulados por ele. A princípio, todos possuímos valores e princípios morais bem delineados e nos sentimos no direito de julgar quem pisa fora da linha. Abrimos nossas bocas para falar mal de líderes de todas as partes, sejam eles políticos ou não, cobramos promessas não cumpridas, algo que nos é de direito, é verdade, mas esquecemos de outro fato, também verdadeiro: o poder corrompe. A inversão de valores tornou-se algo comum, banal em nossa sociedade, diria eu. Devemos nos colocar no lugar dessas pessoas portadoras de grandes responsabilidades, ocupantes de grandes cargos e pensarmos em como chegaram no lugar onde estão e por que agem de maneira contrária ao que pensamos como certo.
Entretanto, nada do que foi citado serve como desculpa para desvio de conduta. Se realmente acreditarmos que podemos contribuir de alguma forma ao bem geral e se nossos líderes acreditarem que têm um trabalho demasiadamente importante a ser feito, não há poder que os corrompa. Devemos sempre buscar ser honestos, não apenas com os outros, mas com nós mesmos.
"O poder é o afrodisíaco mais forte." (Henry Kissinger)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Madam Justice

Trecho retirado de 'V de Vingança".



-"Olá querida moça. Linda noite, não é? Perdoe-me pela intromissão, talvez você pretendesse dar uma volta. Talvez você estivesse simplesmente aproveitando a vista. Não importa. Achei que era hora de batermos um papo. Ah, estava esquecendo que não fomos devidamente apresentados. Eu não tenho nome. Pode me chamar de V."
-"Sra. Justiça... este é o V."
-"V... esta é a Sra. Justiça." 
-"Olá Sra. Justiça." 
-"Boa noite, V."
-" Pronto. Agora conhecemos um ao outro. Na verdade, sou seu fã a algum tempo. Oh, sei o que está pensando...
-"O pobre garoto tem uma queda por mim. Uma paixão adolescente." 
-"Perdão, madame, não é isso. Admiro-a a muito tempo, mesmo que à distância. Costumava encará-la da rua lá embaixo quando era criança. Dizia à meu pai" - "Quem é aquela moça?", e ele dizia, -"É a Sra. Justiça. E eu dizia -"É linda, não é?". Por favor, não pense que era meramente físico. Sei que não é esse tipo de garota. Não, eu a amava como pessoa, como ideal. Isso foi há muito tempo. Temo que haja outra pessoa agora..."
 -"O quê? V? Que vergonha! Você me traiu com uma prostituta, vaidosa e petulante com os lábios pintados e um sorriso esperto."
 -"Eu, madame? Tenho que discordar. Foi a sua infidelidade que me levou aos braços dela! A-ha, isso a surpreendeu, não foi? Você achou que eu não sabia do seu casinho, mas eu sei. Eu sei de tudo. Francamente. Não fiquei surpreso quando descobri. Você sempre gostou de homens de uniforme."
- "Uniforme? Estou certa de que não sei do que você está falando. Sempre foi você, V. Você sempre foi o único."
- "Mentirosa! Vadia! Vagabunda! Negue que deitou-se com ele, com suas braçadeiras e coturno! Bem, o gato comeu sua língua? Achei que sim. Muito bem. Até que enfim você foi descoberta. Você não é mais a minha justiça. Você é a justiça dele, você deitou-se com outro. Bem, este jogo pode ser jogado à dois!"
-"Soluça! Engasga! Quem é ela, V? Qual seu nome?"
- "O nome dela é Anarquia. E ela ensinou-me mais como amante do que você jamais fez! Ela ensinou-me que a justiça não tem sentido sem liberdade. Ela é honesta. Não faz, nem quebra promessas. Diferentemente de você, Jezebel. Eu costumava imaginar por que você não me olhava nos olhos. Agora eu sei. Então, adeus, querida moça. Eu estaria triste por terminarmos, se não fosse pelo fato de você não ser mais a mulher que um dia amei. Aqui, um último presente. Deixo-o a seus pés."



Woody "Além"

Woody Allen
Semanas atrás, fui acometida por uma vontade de assistir "Match Point", obra do mestre Woody Allen. Na verdade, não era vontade, era necessidade. Fiz a única coisa que poderia fazer naquele momento: sucumbi ao desejo.
Woody, durante sua ilustre carreira, escreveu e dirigiu muitos filmes. A maioria deles, principalmente os mais antigos, têm como tema a cidade de Nova Iorque e os relacionamentos que lá se desenrolam. Esta receita rendeu clássicos como Annie Hall e Manhattan. Mas, foi quando Allen atravessou o Atlântico que seu trabalho foi "além". 
Foi em Londres que o escritor e diretor filmou, na minha humilde opinião de pseudo cinéfila, seu melhor filme e também foi lá que esse encontrou sua segunda musa, Scarlett Johansson. Em 2005, Allen lançou "Match Point", um filme que aborda a sorte e o quanto esta está presente em nossas vidas. Essa é a primeira vez que vemos um tom obscuro em um de seus trabalhos. Tudo funciona e se encaixa perfeitamente, a fotografia, Londres, Scarlett. Neste caso, só tenho uma coisa a dizer: Game, Allen.
Muitos, por conhecerem a fama de nova-iorquino apaixonado de Woody poderiam pensar que depois de uma temporada fora, ele voltaria à sua cidade, afinal, "o bom filho a casa torna", mas não foi o que aconteceu. 
Match Point
O que vimos foi uma sequência de filmes não só feitos na Europa, mas com cara de Europa. "Scoop" e "O sonho de Cassandra", Londres; "Vicky, Cristina, Barcelona", Barcelona; "Meia Noite em Paris", Paris; "Para Roma, Com Amor", Roma. 
Os ares europeus fizeram bem a ele, parece que até a fotografia de seus filmes mudou. Está mais delicada, romântica, com um toque de Jean-Pierre Jeunet em "Amelié Poulain" e "Eterno Amor".
Alguns aspectos podem ter mudado, mas uma coisa continua igual: suas piadas inteligentíssimas. Uma de suas películas, pouco conhecida, devo dizer, chamada "Tudo pode dar certo" é uma das melhores comédias que já assisti. O personagem principal, Boris, é um autorretrato do autor. "Vicky, Cristina, Barcelona", que não foi feito para ser cômico, tem cenas e falas engraçadíssimas e inteligentes. A atuação de Penélope Cruz é impecável. Tanto que a atriz ganhou um Oscar por seu papel como "Maria Elena" e tornou-se um dos meus personagens favoritos de todos os tempos.
Penélope Cruz em "Vicky, Cristina, Barcelona"
Mas o que faz de Woody Allen um gênio do cinema? Seus roteiros? Sua direção? A escolha do elenco? Da locação? Todos esse aspectos reunidos? Talvez sim, mas o que realmente torna Allen um gênio e faz dele um dos maiores cineastas de todos os tempos é ser fiel em suas ideias e crenças. Mesmo quando criticado, Woody nunca alterou o teor de seu trabalho para contentar ninguém. Sua ousadia, coragem e inteligência fazem de Woody Allen um mestre, fazem com que ele vá sempre "além".

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A história por trás do nome

"Quis Custodiet ipsos custodes?"

Alan Moore
Por definição, vigilante é uma pessoa atenta, cautelosa. Seria eu, portanto, uma vigia, possuidora de tais características? Mesmo carregando esses atributos, a origem no nome não vem do dicionário, mas sim dos quadrinhos.
Alan Moore é um escritor inglês de histórias em quadrinhos, consideradas verdadeiras obras de arte para os amantes de HQs. Em 1986, Moore lançou, em parceria com a editora DC Comics,  a série "Watchmen", ou em tradução livre, 'Vigilantes'.

O drama conta a história de um grupo de heróis mascarados que decidem enfrentar o crime e em decorrência disso, são banidos por lei. A obra quebra os padrões dos "super-heróis" imaculados pelo público americano e coloca em pauta assuntos relevantes para a sociedade, assim como a política, acabando com a ideia que quadrinhos são para crianças.

Watchmen

Em 2009, uma adaptação cinematográfica foi feita, dirigida por Zack Snyder. Devo dizer que não sabia da existência da HQ até assistir sua versão para o cinema. Foi amor a primeira vista. O filme era simplesmente maravilhoso. Algum tempo depois, decidi ler a obra. Só então tive certeza de sua grandiosidade e riqueza de detalhes e soube que nunca havia visto uma película adaptada tão fielmente. Moore já constaria em minha lista de favoritos por ter escrito Watchmen, mas foi outra série que fez com ele ocupasse o topo absoluto.

Foi seu anti-herói que despertou em mim a admiração total e um respeito absoluto por seu trabalho. 

V for Vendetta
V for Vendetta, V de Vingança para os brasileiros ou apenas V para os íntimos foi lançado em 1982. Situado no futuro, em uma sociedade fascista no ano de 1997, a série conta a história do antigo prisioneiro da cela número 5, que por ser torturado e quase morto, veste a máscara de Guy Fawkes e promete a si mesmo que lembrará o povo Inglês e seus governantes do Cinco de Novembro e da "Conspiração da Pólvora". Ele denomina-se V. Obviamente, essa história também ganhou seu lugar nas telonas, com uma adaptação que, apesar de muito bem elaborada, não agradou muito.

Com um enredo magnífico, uma personagem que, apesar de usar uma máscara, não tem nada de caricata e é extremamente rica e bem estruturada, com analogias extraordinárias, Alan tornou-se, para mim, o maior escritor de novelas gráficas de todos os tempos.  


"Remember, remember de 5th of November, the gunpowder treason and plot. I know of no reason why the gunpowder treason should ever be forgot."